sábado, 10 de maio de 2008
Acordando(2)
Levantou-se lentamente de seu leito orgânico revestido de flores, envolto por rostos que lhe secam a face, fuzilando seu interior. Estes rostos estranhamente familiares, abismados pelo presunto que porco tornava-se mais uma vez, não o paravam de fitar e de budejar para a criatura mais próxima, a notoriedade do acontecimento à frente das senhoras e senhores, de negro portados, que ali aviam ido com intenção de condolências, agora transformadas em uma inóspita surpresa. E o que restava a todos era observar os próximos passos de um, antes imóvel, corpo que ganhara vida diante de seus olhos.“Você voltou? V-você...”Tentado pela voz que acabara de lhe falar o presunto virou-se em direção a mesma, encontrando seu olhar com uma jovem de traços simples, contornos belos e desenho talhado pelo escultor mais hábil que jamais vivera. Foi quando um estranho pensamento tomou-lhe consciência, e perguntou a bela moça:“Quem é você?” Ela o respondeu com um olhar tremido pelas lágrimas que dele brotavam, e em um rápido lance, virou-se a correr em direção contrária a do local do fato ocorrido, deixando escorrer pelo caminho longos raios de luz que brotavam de sua cabeça e acompanhavam o brilho do sol, que sobre eles incidia.Em face de tal situação, ficara sem ação por alguns minutos enquanto via a bela desaparecer por entre as estreitas ruas do que parecia ser uma pequena vila. Voltou-se para trás e contemplou alguns rostos que mantinham seu espanto, porém, um semblante, aquele simples, no canto, com um leve sorriso e olhos encobertos por sombras de intensa escuridão, foi o que prendeu sua atenção. Naquele momento questionou-se: será real tudo que passei, ou só agora vivo minha realidade?
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